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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Vertentes para no adeus ao seu maior líder político

Fotos: Otávio Souto

Localizada a 123 km do Recife, Vertentes, com 20 mil habitantes, no Agreste Setentrional, parou, há pouco, para prestar a última homenagem ao seu maior líder político, o ex-prefeito Ozair Cavalcanti, 74 anos, que morreu ontem no Recife, vítima de complicações renais e no fígado.

Uma multidão acompanhou o cortejo fúnebre pelas ruas da cidade até o cemitério, onde foi sepultado sob forte emoção. Homem de personalidade forte, advogado de carreira e político por vocação, Ozair governou a sua terra natal por duas vezes.

O primeiro mandato, de 1977 a 82, e o segundo de 92 a 96, conferiram a ele uma popularidade que nenhum gestor havia obtido no município, pela forma de administrar olhando os mais necessitados, com políticas públicas na área social.

“Ozair era o pai dos pobres”, define o vereador Jânio Arruda (PSD), de Taquaritinga do Norte, município próximo. Arruda teve uma longa convivência com Ozair, de quem recebeu apoio para disputar um mandato de deputado estadual nos anos 90.

“Nunca vi um homem tão generoso com os pobres, mas também valente e destemido, de não levar desaforo para casa.
A valentia do ex-prefeito, pai da jornalista Hylda Cavalcanti e do advogado e ex-vereador Severino Cavalcanti, que morreu afogado com apenas 31 anos, ganhou notoriedade na região e muita gente temia enfrentá-lo. Conta Jânio que Vertentes entrou para a história como a única cidade do País onde se assistiu a uma carreata na qual os carros andaram de ré.

Segundo ele, isso se deu quando uma nora de Ozair perdeu as eleições para prefeito e o candidato vencedor chegou a provocá-lo ao tentar incluir a sua casa no roteiro da carreata. “Quando a turma se aproximou da casa de Ozair, fazendo barulho e anarquia, ele pegou uma bazuca e atirou nos pneus de um dos carros. Neste momento, a carreata passou a andar para trás, de ré”, relembra Arruda.

Prefeito de Santa Cruz do Capibaribe, o ex-deputado Edson Vieira (PSDB) veio ao sepultamento do líder de Vertentes. De Ozair, recebeu apoio para disputar seu primeiro mandato de estadual, obtendo dois mil votos no município. “Mesmo fora do poder, Ozair tinha um grande poder de transferência de voto, porque era um líder natural, amado pelo povo, mas também odiado pelos adversários”, diz Vieira.

Ozair Cavalcanti é de uma geração em que a lealdade política estava acima de tudo. “Foi o primeiro prefeito a declarar apoio à candidatura de Roberto Magalhães a governador”, lembra o ex-deputado Agostinho Rufino, de Santa Cruz do Capibaribe, que também já foi apoiado pelo ex-prefeito quando disputou um mandato para a Assembleia Legislativa.

Segundo ele, só dona Geralda, a viúva, conseguia conter Ozair nas horas de fúria dos seus adversários. “Ozair enfrentou coronéis com uma bravura nunca vista, não tinha medo de assombração e gostava de fazer o bem”, observa, adiantando que dona Geralda, com o seu temperamento de santa, já tirou o marido de muita encrenca.

Prefeitos, lideranças políticas, vereadores e deputados foram dar o último adeus a Ozair. Na multidão, muita gente se emocionou. Dona Maria José foi vista chorando em frente à sua casa com um quadro nas mãos trazendo a foto de Zito, como era conhecido o filho que Ozair perdeu tragicamente.

“Eu fui merendeira de uma escola no tempo em que Ozair era prefeito. Para mim, ele sempre foi um pai”, disse Maria. Um pouco mais na frente, o agricultor aposentado Antônio Assis, 72 anos, chorava copiosamente. “Seu” Ozair era o pai da pobreza, mesmo fora da Prefeitura nunca nos abandonou”, afirmou.

Já se disse que um líder não nasce, faz-se. Este conceito de liderança se aplica a Ozair Cavalcanti, que passa à história de Vertentes como mito. Construiu sua trajetória, depois de militar como advogado de causas populares, ao lado do seu povo, defendendo bandeiras, combatendo as injustiças. Foi de um tempo em que o município só tinha o FPM como receita, mas fez seus dois mandatos de forma honrada, deixando uma marca que ninguém será capaz de apagar.

Do: Patrulha do Agreste / Fonte: Blog do Magno Martins

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