SANTA CRUZ DO
CAPIBARIBE - Segunda-feira de
manhã. A movimentação ainda é intensa, depois do pico de movimentação registrada
no dia anterior. No estacionamento com capacidade para 4,5 mil veículos, há pelo
menos 500 ônibus com placas de cidades do Norte ao Sul, que trouxeram
comerciantes de confecções que vêm regularmente se abastecer na feira de Santa
Cruz do Capibaribe, a 193 quilômetros do Recife. Eles circulam e se atropelam
com sacolas e carrinhos de mão já abarrotados pelos 9.624 boxes e 707 lojas do
maior shopping atacadista do País, o Moda Center, criado em 2006.
Marinete Santos da
Silva veio de Sailândia, no Maranhão. Há quatro anos ela faz o mesmo longo e
desconfortável percurso, de 15 em 15 dias. É em Santa Cruz do Capibaribe que
abastece a sua lojinha Stilo Confecções. "Aqui sempre tem novidade e o preço é
bem razoável", explica Marinete, que já havia comprado R$ 7 mil em peças
variadas. "Vale a pena", garante.
O Moda Center é o
retrato do comércio de Santa Cruz, que tem se modernizado e profissionalizado.
Seu surgimento ajudou a enfrentar o trabalho infantil, difícil de ser
fiscalizado na rua.
Antes, a feira
ocupava 14 ruas da cidade e se caracterizava pela informalidade. No local, atrás
do Moda Center, ainda funciona um comércio chamado de "poeirão" ou "calçadão".
Ali, os produtos são expostos em bancas de madeira. É a expressão do início do
polo de confecções do agreste, quando o comércio da "sulanca" começou a crescer
na década de 60 e surgiu como alternativa de sobrevivência à seca.
A palavra "sulanca" é
a corruptela de Sul e helanca. Comerciantes começaram a comprar sobras do tecido
no Sul do País para fazer colchas de retalhos. A produção passou a usar sobras
de jeans e se ampliou para roupas.
José Agildo
Gonçalves, 30 anos, e sua mulher, Giusleide Silva, 29 anos, se mantêm costurando
saias de helanca a preços que variam de R$ 2 a R$ 4 a unidade no "poeirão".
Cerca de 30 pessoas de suas famílias estão envolvidas no trabalho e Giusleide
não vê por que mudar. Está satisfeita. Ela paga R$ 10 por feira - R$ 5 ao dono
da banca e R$ 5 à prefeitura, pelo chão - e não quer se formalizar. Com o
negócio, construiu casa própria e paga os estudos dos três filhos. A mais velha,
de 11 anos, já ajuda os pais.
Angela
Lacerda
O Estado de
S.Paulo
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